quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Nome do Vento

"Este é o típico primeiro romance que muitos autores sonham em escrever. O mundo da fantasia ganhou uma nova estrela." ─ Publishers Weekly

Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.

Da infância numa trupe itinerante, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O Nome do Vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender a arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano ─ o lendário e misterioso grupo que assassinou sua família.

Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.

Pouco a pouco, o passado de Kote vai sendo revelado, assim como sua multifacetada personalidade ─ notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame.

Nesta envolvente narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, povoado por mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.

Mais do que a trama bem construída e os personagens cativantes, o que torna O nome do vento uma obra tão especial – que levou Patrick Rothfuss ao topo da lista de mais vendidos do The New York Times – é sua capacidade de encantar leitores de todas as idades.

Tehlu misericordioso, que livro fantástico!

Num mundo de fantasia medieval, temos Kote (ou Kvothe), um adulto pacato, um ser humano comum que cuida de uma simples hospedaria num canto esquecido do mundo. Mas nem sempre ele foi assim... Seu passado é capaz de encher as páginas de tomo graúdo, é capaz de confirmar e desmentir mitos do imaginário popular; Kote é praticamente um mito vivo, autor de inúmeros feitos memoráveis. Mas, hoje, ele está oculto. Disfarçado de um hospedeiro qualquer, esquecendo o passado, evitando-o.

Até que um escriba (que atende por Crônista) lhe encontra e descobre que aquele simples homem atrás do balcão, servindo bebidas e enxugando copos, pode ser o famoso Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; Kvothe, o Matador do Rei. Daí o Crônista (que tem por trabalho colher depoimentos e escrever histórias) insisti e convence Kvothe a lhe contar tudo, para que a trajetória da lenda seja registrada. O hospedeiro aceita, dizendo que sua história seria contada em três dias.

Partindo disso, a estrutura do livro se transforma. A narração do tempo presente é na 3ª pessoa. Porém, quando Kote senta de frente para o Crônista e começa contar o seu passado para que este escreva, a narração passa a ser na pessoa de Kote. Quando ele dá uma pausa, a narração retorna à 3ª pessoa, com os personagens na hospedaria, o Crônista limpando a pena e Kote indo beber alguma coisa ou atender alguém. É um livro dentro do livro, difícil explicar.

Além de uma bela narração e sábio uso de pontas soltas e deixas, Patrick Rothfuss é um gênio dos diálogos divertidos e tensos e que muito dizem. É possível entender um personagem, compreender em muitos ângulos o seu físico e sua personalidade, apenas através de suas falas ligeiras através de uma conversa sobre a mesa de um bar ou na estrada para uma cidade. É quase como visualizar o personagem automaticamente, só de acompanhar uma prosa qualquer em que ele esteja metido. E, de alguma forma miraculosa, o autor introduz inúmeros personagens durante os capítulos sem que isso se torne um cansativo teste de memória (quem é esse mesmo? Como se chamava aquele lá?) para o leitor.

Outra coisa bacana é a abordagem feita para a magia, algo trabalhado de forma original. Parte-se do principio que é impossível gerar energia. Técnicas diversas ensinam apenas a manipular o que já existe. Eu posso acender uma fogueira, murmurando as palavras certas e me concentrando, mas preciso ceder um pouco de calor do meu próprio corpo, transferindo energia de mim para fora, acendendo, assim, a fogueira. Note como isso pode ser perigoso ─ eu posso ceder calor demais e morrer de hipotermia... Outro exemplo: duas moedas sobre o tampo da mesa, eu ergo uma delas, e a outra levita sozinha. O que aconteceu? Eu fiz uma espécie de conexão mental das duas moedas, de modo que o peso de uma passou para a outra e a força que exerço sobre a que esta em minha mão reflete na que levita; é como se eu estivesse erguendo as duas moedas. Ainda sobre conexões: imagine um copo de madeira, desses de taverna. Eu quebro uma pequena parte desse copo e o mantenho comigo. Novamente, com a concentração e as palavras místicas certas, se eu quebrar aquela parte do copo que tenho comigo o dano será o mesmo no copo, que ficará partido, independente do tamanho do pedaço que tenho. Isso, em pessoas seria mortal, tal como um voodoo.

Mas aparentemente nada é mais poderoso que a arte de nomear as coisas ─ que nada mais é do que manipular as energias, chamando-as através de um nome ao utilizar um lado “adormecido” da mente. Kote deseja aprender o nome do vento desde que, quando era muito jovem, viu um senhor derrubar uns brutamontes com uma lufada de vento que veio de lugar nenhum. O senhor veio a ser seu primeiro mentor, e lhe indicou a Universidade ─ o grande “centro de estudos”, não só mágicos como de uma boa gama de faculdades.

Tudo intercalado com música ─ pois Kote é um músico talentoso. Era membro de uma trupe de artistas; seu pai, ótimo músico, sua mãe, grande poeta; ambos, bons atores.

Quando não é música é romance ─ pois Kote tem uma ligeira atração por uma certa Denna.

E ainda por cima, a promessa de vingança. A primeira parte do livro é feita de um luto denso sob o olhar de um menino que perdeu seus pais num episódio enigmático envolvendo um grupo sinistro chamado Chandriano, que até então era apenas uma lenda. Kote sobreviveu ao atentado. A imagem do dia jamais lhe deixou. Não havia razão naquilo. Não havia... Então, Kote mergulha em anos de depressão. Uma criança com seus 11 anos, sobrevivendo numa cidade suja e perigosa... Um tempo depois, e além de querer aprender o nome do vento, Kote vai para a Universidade numa ânsia de descobrir mais sobre o Chandriano, pesquisando no grande acervo de livros do lugar. Com o tempo, a dor passou, o desejo de vingança não evoluiu em seu intimo... mas também não deixou de existir.

Na narração do passado, até aqui, Kote tem seus 15 anos, frequenta a Universidade e persegue pistas sobre o Chandriano, ganha fama e rivalidade, se envolve com tipos insalubres e se amarra cada vez mais em Denna. Na hospedaria, o primeiro dia termina; o Crônista sobe para o seu quarto e dorme; Kote sobe para o seu quarto e tenta dormir. O livro termina.

O Nome do Vento é do tipo que se lê devagar, apreciando cada linha com atenção e torcendo para que a última página jamais chegue. É um livro perfeito em vários sentidos, desde estrutura até personagens até a clareza e magnetismo no caminhar da estória.

Quem ainda não leu está perdendo tempo, sério.  

7 comentários:

  1. Ainda não terminei de ler, mas se trata de um livro realmente muito bem escrito. Recomendo.

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  2. Olá, amigos.

    Peço licença para invadir este espaço, mas gostaria de convidá-los a prestigiar meu conto “O Legado de Lyraan”, disponível na Amazon por apenas R$ 2,99. https://www.amazon.com.br/dp/B00F202SXA Se puderem também me dar uma forcinha na divulgação, ficarei infinitamente mais agradecido. Abraço a todos.

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    1. Grande Jacó, pode deixar que em breve farei um post divulgação da tua iniciativa. E ainda estou devendo um feeback do "Guerra nos Nove Mundos"... Não passa dessa semana!

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  3. Comecei a ler no começo do mês e concordo com você em gênero, número e grau, o livro é excelente.

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    1. Estou quase terminando o segundo livro e já sinto aquela ânsia GeorgeMartiana de cobrar o autor com algo como "vai logo cara, escreve o terceiro livro pra ontem, já!"

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  4. Não conhecia o livro, mas com tanta boa critica fiquei com muita vontade de o ler

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    1. Acho que ano que vem o 3º livro será publicado, encerrando a saga. E uns meses depois chega aqui no Brasil. Minha sugestão é ter um pouco de paciência e esperar para ler a trilogia numa tacada só. É bem melhor.

      Patrick é um diferencial na fantasia medieval atual. Ele e o Joe Abercrombie.

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